Estou, como nunca antes, perplexa. Cada simples coisa ou fato da vida me intimida.
Não pelo medo, mas por serem incomensuravelmente espantosos e dignos de admiração. Tenho hoje o receio, e não mais o êxtase em pensar, em pensar, na eternidade. Essa coisa sem fim, e talvez sem começo, sem pé nem cabeça. Esse segredo me aperta o coração e enegrece o intelecto.
Quero ser covarde e deixar filosofia de lado. Adotar o sábio caminho do fantástico no Domingo e do chocolate ao leite. Alívio da constante consciência de que existo. De que tudo existe, e é só olhar em volta e para onde olhar verei sempre esse fantasma e não um anjo iluminado.
Imagino-me eterna e só consigo me ver louca, descabelada. E mesmo mortal fico pasma com a roda gigante do mundo. Essa que oprime e esmaga até mesmo a minha inteligência.
A visão gloriosa de que nada sou mais que uma formiga no globo ou algo ainda menor. Poeira cósmica cheia de beleza porém ridícula grandeza, nada posso no cosmo.
Só posso supor que Deus me quis mesmo pequena. E vou além, fez as formigas para eu saber que sou que nem elas. Estou humilhada diante da Visão do Alto Montanha.
Quero só saber da feijoada no sábado. Sem ter que pensar, é claro, que sou ridícula como o próprio grão de que me alimento. Só quero uma refeição, um almoço desses fartos e bem curtidos, com direito a muitas gargalhadas estúpidas e exageradas.
Feijão sem metafísica.
Quero esquecer, ignorar, para dormir tranqüila e não correr o risco de me estupefar com a complexidade filosófica dos travesseiros. Não quero contemplar angustiada esse meu algoz a noite inteira.
Quero existir-me sem existencialismo, sendo o que sou, mas sem ser o que sou.
Engano-me ao querer tudo isso.
Minha mão fica suada e minha testa franze.
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