segunda-feira, 2 de abril de 2007

De perto todo mundo é ninguém?


"A humanidade se divide em dois: aqueles que acreditam que a humanidade se divide em dois e aqueles que não acreditam.
A metade que acredita, por sua vez, também se divide: entre os que fingem que se levam a sério e os que fingem que não se levam a sério." A teoria é do escritor Ruy Castro, que finge não se levar a sério.
Essa é uma idéia muito boa, pois mostra como levar-nos ou não a sério, por mais contraditório que seja, são dois lados da mesma moeda.
Imagine uma pessoa que se leva a sério: ri pouco, anda sempre arrumada, as contas em dia, o cabelo preso, idéias rígidas sobre Deus e o mundo, horário para dormir e para acordar, come fibras em todas as refeições, lê o caderno de economia do jornal, lava o cabelo e, após o enxágüe repete a operação para obter um melhor resultado, como sugere o rótulo do xampu... No fundo nós sabemos que por trás de toda essa organização nipônica escondem-se as mesmas aflições presentes em todo ser humano: será que alguém vai gostar de mim? Será que vou ter dinheiro para pagar as contas? Será que vou ter alguma doença grave? Será que, repetindo a operação, obterei melhores resultados, como sugere o rótulo do xampu?
Ou seja, levar-se a sério é uma ficção.
Agora pense em alguém da outra metade: ri muito, de si e dos outros, fala o que der na telha e não tá nem aí para o que os outros vão pensar, exagera na sobremesa, tem o quarto mais bagunçado do que casa invadida pela máfia em filme de tevê e, de manhã, fica apertano aquele botão [diabólico] de "só mais cinco minutinhos" do despertador, até os minutinhos somarem três horas [!!!]...
Também sabemos que, no fundo, por trás dessa alma leve e despreocupada estão os velho sofrimentos humanos. Rir é uma maneira de tentar aplacar nossas angústias, não bater de cara com nossos problemas.
Ou seja, não levar-se a sério também é uma ficção.
No fundo, a gente finge se levar a sério porque não se leva, e finge não se levar a sério porque, na verdade, se leva.
Muito confuso?
É, nós somos confusos mesmo.
É como a frase do Caetano: "De perto ninguém é normal." Quer dizer, por trás de nossas supostas normalidades estão escondidas dezenas de loucurinhas, varridas para debaixo do tapete. Aí veio não sei quem e disse: "De perto todo mundo é normal." Ou seja, por trás de nossas supostas loucurinhas individuais somos todos parecidos.
E aonde nos levam todos esses pensamentos?
Sinceramente, não sei.
Apenas acho que maturidade, responsabilidade e comprometimento, não são sinônimos de polidez britânica.
Eu quero mais é comer pizza com Coca-cola no café da manhã...

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