quarta-feira, 9 de maio de 2007

Metáforas biográficas

É, eu realmente aprendi que a vida não pára.

Enquanto eu me sentei para tentar juntar os pedaços do meu coração, a vida acontecia ao meu redor. O mundo girava ininterruptamente enquanto eu me lamentava e secava minhas lágrimas.
Com isso, só consegui mais dor e sofrimento.
Pois as pessoas precisavam seguir seu caminho e com meu bonde parado naquela mesma estação, gradativamente, uma à uma, cada uma das pessoas que se encontrava comigo naquele bonde, estagnado, foi pegando seu rumo e embarcando em um dos outros bondes que por nós passava, dando continuidade ao seu caminho.

Por muito tempo lá fiquei, espraguejando aquela máquina inerte, tentando fazer com que ela voltasse ao seu trilho e desse continuidade ao meu caminho. Foi uma luta em vão. Não havia esforço que fosse recompensado.
Eu lutava com algo que já não tinha mais “vida”... sua utilidade extinguira-se. E eu não quis enxergar que devia largar aquele bonde e enquanto um outro não passasse, deveria cuidar da estação.
Pintar, limpar, plantar flores... trazer àquele lugar cores.

Ok, ok!
Eu talvez não tenha me esforçado o suficiente, dirão uns; outros se penalizarão [desnecessariamente, afinal, não sou nenhuma injustiçada pela vida.].
Mas ouso dizer que fiz tudo o que pude, aquilo era o máximo que podia na época.
Estava tão enceguerada pela minha dor que preferi não enxergar a realidade, e tapar meus ouvidos aos pensamentos que ecoavam em minha mente.
Perdi tempo, perdi pessoas, perdi oportunidades... e só hoje sou capaz de entender isso.
Mas pude aprender muito à respeito de mim mesma, daquelas pessoas que me abandonaram, da vida...

Com o tempo, outras pessoas foram aparecendo.
Algumas apenas pintaram uma parede e se foram, outras, estão no trabalho diário de embelezar a estação junto comigo.
Elas vão e vêm.

Meu velho bonde deu lugar a um novo. Construído com muito esforço, muito mais dos que me cercam, do que meu, que mesmo nas horas mais árduas se negam a partir.
Com muita ajuda, estou o fazendo rodar.
E já tenho uma certa confiança para construir meus próprios trilhos, seguindo aquele caminho que julgo ser o certo.
Talvez descubra que mais vez errei quando desembarcar na última plataforma. Mas, ao menos, terei trilhado o caminho que escolhi.
Não terei apenas ficado a lamentar-me, sentada na estação, do que já foi, apenas supondo o que vai ser e sofrendo por algo que nem sei se realmente não será.

Mesmo com o coração na mão, tive que deixar aquele velho bonde, incapaz de voltar a rodar, de lado e embarcar no novo.
Com medo, lógico. Mas com coragem.
Fechei os olhos e fui.
Quando lá cheguei, vi que muitos estavam comigo... várias mãos para me amparar.

De vez em quando o velho bonde me vêm à memória.
Acreditei que juntos: eu, ele e os demais integrantes, fôssemos rodar até o fim. E por vezes sinto falta do que vivemos juntos. Das histórias, dos sentimentos que brotaram, dos sonhos não concretizados, das pessoas que partilharam o percurso e de tudo o mais que vivi à bordo dele, cercada por cada uma daquelas pessoas, que foram tão importantes em minha vida.
Então eu paro por alguns instantes, tomo algo, fumo um cigarro e anuncio que em 5 minutos estaremos partindo.
Rodar ainda é difícil...
Meus trilhos encontram-se obstruídos em alguns trechos. Mas sei que posso contar com mãos amigas que me auxiliam na remoção dos obstáculos.

É, a vida não pára...
Mesmo que nosso mundo tenha sido dizimado.

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Esse texto brotou após eu ter visto o dvd do Lenine com minha mãe, nessa tarde chuvosa.
Enquanto eu ouvi uma música, as palavras surgiam em turbilhões em minha mente... e quando vi, havia sintetizado o que aprendi com as dolorosas experiências que tive.
Foi exatmente esse trecho da música que me fez refletir...

♫♫ Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára ♫♫

[Paciência - Lenine]

P.S.: se der, escutem-na.

3 comentários:

Anônimo disse...

doesn't matter how much friends you have
doesn't matter how much people you know
on the bad days
you're always alone...


you look, but you don't find the words, look at everything around you, it's not so quiet as it seems,
it's not how you think, it's an elaborated dream, look at your reflection, is it all you want to be?

(erick)

Guilherme Gomes Ferreira disse...

MOÇA! QUE SENSACIONAAAAAL ESSE POST!
é sim, gostei pra caramba, e vc pensa parecedinho comigo hehehe

sabe, a vida é isso mesmo que vc escreveu, um vai e vem de pessoas, e é melhor pensar que as pessoas que vão embora foram um grande aprendizado pra gente, e que a gente não tem mais nada pra aprender com elas...dai fica a saudade gostosa do que já foi e foi bom...

e nós tb entramos e saimos da vida de outras pessoas. E esse ciclo de interações não acaba, só muda

beijo beijo! muáhuahuahua hehehehehe

Fábio W. disse...

Se as pessoas lhe pertencem, em algum nível, elas voltam. Há um momento de intensidade em qualquer relação, e depois as curvas da vida chegam para por à prova os laços que ficaram. tenho muitos laços, uns mais firmes que os outros, uns se rompem quando a vida puxa e repuxa, destes, alguns se refazem depois, mas há os que parecem cordas de aço que não têm remenda, nada partirá. Por isso me apego aos momentos de intensidade de outrora quando vejo que estou só e presumo que na próxima curva da estrada da vida terei mais momentos assim. Nunca se sabe com quem...