segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Redescobrir-se

Há tempos não publico nada no meu blog.
Um tanto por problemas que tive com um imbecil, que infelizmente, que passou pela minha vida e fez com que me sentisse desgostosa em relação ao blog. Acabei achando que era uma palhaçada falar da minha vida, expondo-me à desconhecidos, que acabavam por ter o poder de me classificar do modo que desejassem, enquadrando-me em perfis não-reais, de acordo com os conceitos pré-moldados que nos são incutidos socialmente.
Simplesmente abandonei...

O outro tanto, porção bem maior e mais problemática, foi o fato de sentir-me vazia, sem idéias, sem pensamentos. É como se tivesse atingido o "Estado do Nirvana", só que não há iluminação, irradiação de conhecimento e despertar humano.
Tudo é vazio, silente, escuro. Sentia-me no lusco-fusco da vida.


Hoje, ao acordar, fiquei rolando na cama e a cabeça foi invadida pela lembrança.
Lembrei do quanto me era prazeiroso, e ultramente-necessário, desabavar aqui. Nunca senti-me exposta. Sentia-me apenas livre. Era o meu grito de liberdade, dizer ao mundo o que realmente penso e sinto.

Hoje senti essa necessidade...

Há um tempinho fui diagnosticada como Bipolar Tipo-1, e não vou dizer pra vocês que foi fácil aceitar isso. Mesmo o Transtorno justificando todas as minhas "falhas" e, também, o meu comportamento de certa repulsa social em determinadas épocas e, a loucura pela humanidade e tudo em excesso, em outras, confesso que não senti-me feliz em saber o que realmente se passava comigo.
Senti medo, senti raiva, senti vergonha, senti repulsa. Senti coisas que não sei explicar, coisas que não sei o que eram...


Minha família teve problemas em aceitar meu diagnóstico, eu tive vergonha, e fui proibida, de contar às pessoas o que tinha - tive medo que elas em sua ignorância, me classificassem como louca e me banissem; ninguém quer ser marginalizado, eu também não.

Eu fiquei só, distante, remoendo toda a minha raiva com a vida, comigo, com meus pais; sentia uma saudade absurda da minha avó.
Me fechei em meu casulo e, sinceramente, as vezes em que tentei de lá sair foram desastrosas. O desespero causado, resultava em dor e agonia, sendo meu desejo maior, a morte.

Nesse período contei com um Amigo que, por mais ausente e sumida que eu seja, está sempre em meu coração e meu pensamento. O Diego [o menino que me incentivou a escreve o blog] foi crucial na minha vida. Ele me aguentou na madrugada chorando todo a minha dor com o mundo, ele me abraçava à distância e eu o sentia bem perto de mim, ele me animou, ele me esclareceu, ele me apoiou.

Na mesma época, em um caminho paralelo, havia um cara que tentava de todos os modos me ajudar - sem nunca ter me visto - e eu o achava extremamente chato e intrometido. Eu tinha certeza que ele era louco [Ok, não me enganei tanto assim - rs]; a primeira vez que o cara falou comigo - no msn - eu estava em crise - gigantesca - e queria, a todo custo, me suicidar.
Ele não fugiu... rs
Ele ficou lá, tentando me convencer, sem ser clichê em nenhum momento. Me fez pensar não só no meu desespero; mas em meio à minha "insanidade", conseguiu me arrastar do Inferno e fez com eu percebesse a dor que causaria com um ato de desespero.

Além de me resgatar de todo o mal, que eu mesmo me causava, ele despertou em mim o AMOR mais sublime que já senti.
Esse cara, hoje, é o meu marido, o meu amor, o meu melhor amigo...

Essa historinha foi uma breve introdução, esclarecendo pontos de extrema importância - com superficialidade, pra ser sincera - necessários para o desenrolar da minha trajetória.


Na semana passada eu descobri, que na realidade, não sou Bipolar Tipo-1 [vamos fingir que isso tenha sido um motivo de alegria - hunf!]. A verdade, incontestável, é que eu possuo Transtorno de Persolanidade Borderline [TPB], ou Transtorno de Personalidade Limítrofe [TPL].
Eu não fiquei nem um pouco contente com isso... muito pelo contrário.

Mas, antes de prosseguir, vou esclarecer do que se trata a "Personalidade Borderline".

" O Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), também conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) - muitas vezes errôneamente confundido com transtorno bipolar - é definido como um severo transtorno de personalidade de linhagem sociopática primariamente caracterizado por desregulação emocional, raciocínio “8 ou 80” (“branco e preto”), extremo ou cisão, e relações caóticas. O perfil geral do transtorno inclui uma instabilidade pervasiva no humor, relações interpessoais, auto-imagem, identidade, comportamento e sentimento de si mesmo do indivíduo, como também manipulação interpessoal. Essa perturbação no sentimento de si mesmo pode levar a períodos de dissociação, como a despersonalização (sentimento de não estar integrado à realidade, ruptura com a personalidade). As perturbações sofridas pelos portadores do TPL têm um longo alcance negativo em muitas ou todas as facetas psicosociais da vida, incluindo empregabilidade e relações no trabalho, casa, e ambientes sociais. Tentativas de suicídio e suicídio completado são possíveis resultados sem os devidos cuidados e terapia.

(...)

Cisão no paciente borderline
No Transtorno de Personalidade Borderline, cisão (splitting) é um erro cognitivo característico. Esse erro é uma defesa primitiva e representa a tendência em se completamente idealizar ou completamente desvalorizar outras pessoas, lugares, idéias, ou objetos; o que significa, vê-los como totalmente bons ou totalmente maus. É um comportamento no ser humano, enquanto criança pequena, dividir o mundo entre "bom" e "mau". A criança não está emocionalmente madura o bastante para saber lidar com as diferenças e imperfeições das outras pessoas/coisas. Em alguma fase do desenvolvimento infantil, o indivíduo aprende a enxergar o meio-termo e a neutralidade existentes nos outros e o comportamento de separação primitivo é superado. No TPL, por diversas razões (muitas delas relacionadas a traumas), o mecanismo de separação se mantém na idade adulta e cria uma instabilidade emocional que afeta severa e negativamente a vida dos pacientes borderlines. Essa cisão pode resultar problemas como o estupro e envolvimento com drogas pelo mau julgamento ao escolher parceiros e estilos de vida.
(...) "


Tirei essa breve informação da Wikipédia, o link para o Artigo é: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_personalidade_lim%C3%ADtrofe

Recapitulando.

Eu me descobri Borderline, um Transtorno que atinge de 1% à 2% da população mundial.
Será que devo me considerar sortuda?! rs

A realidade é que eu entrei em desespero.
Resolvi procurar uma Comunidade no Orkut para ver como é o dia-a-dia dessas pessoas [fui um tantinho preconceituosa aqui], e me assustei. Comecei a chorar e a dizer para mim mesma que eu não queria, de modo algum "ser aquilo". Cada tópico que eu lia me deixava ainda mais sem perspectiva da vida.
Eu lia a minha história em cada um daqueles relatos, e tinha medo. Para mim foi complicadíssimo saber que não era Bipolar.
Me senti irreal, não era mais possuidora do meu Eu.
Esquisito saber-se algo e depois não o ser.


Após acostumar-me e adaptar-me, antecedido por um processo árduo e sofrido de aceitação, vejo-me novamente nessa situação. Terei de me descobrir, adaptar-me, aceitar-me, aprender a conviver com a minha nova personalidade, com o meu Eu real, redescobrir a minha relação e lugar no mundo.

Por um momento eu achei que tinha conseguido me adaptar a essa realidade, mas não foi verdade. Ladeada por problemas dististos, porém paralelos, tive a impressão de que havia me aceitado. Mas estava em crise, e nem ao menos o sabia. É tudo novo e ao mesmo tempo contínuo.
Assusto-me...

Ao saber de como realmente sou, passei a não lidar da mesma forma com o mundo, eu não sei mais como lidar com a minha vida. Parece que o modo que agia e pensava e sentia já não me serve mais, afinal não sou o que era. Não por mudança desejada, mas por uma descoberta inesperada e indesejada. Lidar com o novo sempre foi problemático, agora já nem mais sei como é.
Acho que isso é o chamam de "Despersonalização", pelo menos é assim que eu me sinto.
Nada, ninguém... sou uma bolha que paira sobre a realidade alhei, sem saber o que ou quem eu sou.

O resultado foi uma crise de "sei-lá-o-que", onde me descontrolei completamente e causei sofrimento às pessoas que amo e a mim mesma. Eu perdi a noção de certo e errado, de quem eu sou, de quem eles são, de dor, de perigo.

A ténue linha que separa a sanidade da insanidade foi apagada em alguma parte e eu corri livremente pelos campos da loucura.
Atentei contra minha própria vida, bati em pessoas, cuspi, gritei, chorei...
Acho que aquele ali foi meu grito por socorro, pedia por libertação, por ajuda, pelo meu Eu antigo [que eu já sabia como era], quis também sumir, não existir. Desejei que aquela realidade real, fosse a irrealidade projetada por minha mente.
Mas não era...
E eu causei dor...

Não sei mesmo como me senti após esse episódio. Sei que fiquei cabisbaixa - afinal, o cara que amo foi ferido, e a tristeza dele refletia-se em seu olhar. Eu sei que me senti péssima por ter causado aquele sofrimento; mas o que senti com aquilo?

Ainda agora é complicado. Tento pensar à respeito do ocorrido e o pouco que me lembro é inesplicável.
Vou tentar reorganizar minha vida à partir do meu novo Eu e realizar os planos que fiz enquanto ainda era Bipolar.

Nós vemos por aí...


[Em, 03.01.2008]

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